domingo, 12 de dezembro de 2010

Prostituição masculina: algumas considerações

Há alguns dias postei algumas dicas de segurança relacionadas à prostituição masculina. Gostaria de fazer alguns esclarecimentos para que fique claro que não se trata de um estímulo a essa prática. A venda do próprio corpo é algo em si degradante. É a mais pura expressão da opressão capitalista pois quem nada tem precisa vender o próprio corpo. Neste caso, poderíamos dizer que o próprio ser (mais do que a força física) está sendo negociado. Em tese, o ser humano não deveria vender-se por nenhuma quantia, nem por milhões. Mas estamos longe do dia em que as pessoas deixarão de vender-se por alguns trocados. Além do mais, a degradação não é somente do ser que se vende, é também do que compra. No entanto, não se pode condenar as pessoas que negociam o sexo pois há questões culturais complexas por trás disso. Diria até que a prostituição masculina comporta maiores complexidades. Não há como discutir todos os aspectos dessa prática de modo breve, mas há que se considerar pelo menos o problema do preconceito/discriminação contra os gays. Nossa sociedade machista é o principal aspecto que torna a prostituição masculina uma prática bastante perigosa, tanto para o garoto quanto para o "cliente". O ideal seria que não houvesse esse comércio, mas como disse, há diversas razões que levam as pessoas a isso. A necessidade de dinheiro de um lado, o desejo sexual de outro. Parece ser essa a lógica da prostituição masculina. Mas nem sempre a vida no submundo do sexo é tão fácil de ser compreendida. Na realidade, muitos garotos de programa não são gays assumidos e obtém algum tipo de satisfação sexual nos programas. Algo que eles não teriam de jeito nenhum fora da prostituição. Se essa realização é questionável ou precária, isso é um outro problema. Por outro lado, muitos "clientes" procuram nos garotos mais do que uma simples satisfação sexual. Alguns deles buscam uma relação de dominação (ou mesmo de submissão), deixando o sexo em segundo plano. O programa também pode representar um momento de superação frente à opressão social: é quando o homem pode realizar alguns desejos totalmente proibidos e até mesmo demonstrar sentimentos e sensações mantidas em segredo na vida cotidiana. O sexo, dessa forma, pode ser confundido como um exercício de liberdade, ainda que totalmente permeado de ansiedades, frustrações e ilusões. O submundo dos garotos de programa é um produto da sociedade visível do cotidiano. É a outra face da moeda. Em resumo, o sexo é o grande problema da sociedade capitalista, é o motivo da grande maioria das opressões na sociedade contemporânea. Mas se ficarmos numa análise superficial tenderemos a aceitar que há solução dentro das relações de opressão. Na verdade, a teoria psicanalítica compreende somente a ponta do iceberg e o desafio é tão grande que nem mesmo a maioria dos anarquistas é capaz de enfrentá-lo. Certamente, há defensores do sexo livre (ou amor livre), o que pode representar apenas o outro extremo do problema. A sociedade capitalista patriarcal tem preservado seus paradigmas e preconceitos por uma questão de interesse direto. O comércio, em boa parte, tende a expandir-se para além das necessidades essenciais de sobrevivência do ser humano, por isso encontra nos transtornos sexuais uma motivação ao consumo. As frustrações alimentam as vendas como nunca se viu na história. Portanto, a questão do comércio do sexo, especialmente o masculino, deve ser analisado na sua amplitude. Todos nós estamos à mercê de uma idéia equivocada de sexo. E nesse jogo somos todos vítimas de um sistema que manipula nossos desejos e nossos sentimentos transformando a relação sexual em moeda de troca. O sexo deveria ser uma manifestação profunda da humanidade, uma troca plenamente satisfatória entre duas pessoas. Mas na maior parte das vezes, tem sido uma demonstração da degradação do homem sob o capitalismo, levando mesmo à violência e à total degradação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário