sexta-feira, 20 de maio de 2011

Um diálogo com o responsável pela linha

- Alô, eu gostaria de falar com o responsável pela linha.

Nossa sociedade produziu este personagem curioso, o "responsável pela linha".
Pessoas de diversas organizações assistencialistas insistem em dialogar com este ser de difícil configuração.
Ele pode ser qualquer um, e, no momento tenho recusado sê-lo.
O certo é que o responsável pela linha movimenta uma fortuna em doações e deveria mesmo ser objeto de pesquisas ou mesmo transformado em personagem de filmes, romances, poemas, crônicas, peças teatrais.
O responsável pela linha é um ser enigmático que vive em todos nós.
A sociedade conseguiu produzi-lo mas não conseguiu dar-lhe um corpo, uma materialidade. Ele só existe na ação e na probabilidade. É um número, uma estatística, um fantasma dos tempos atuais. É uma figura sombria capaz de fazer o bem. O responsável pela linha não pensa, não opina, não reflete, não tem corpo, não exige, não participa, mas todos querem dialogar com ele, convencê-lo, tirar dele a única coisa que pode oferecer: uma pequena quantia de dinheiro. O responsável pela linha é um possuidor egoísta, é preciso tirar dele algo que ele não quer compartilhar. É preciso torná-lo bom, mas sem exigir nada além de uns trocados. O responsável pela linha é fruto do individualismo e tornou-se uma grande invenção pois continua a ser o mesmo, mesquinho e desprezível. Para isso, paga um pequeno tributo. Vê-se livre de maiores exigências apenas contribuindo, sem sair do seu mundo fantasmagórico.

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