Para o jornalista, "enquanto a maioria dos homossexuais se diverte em baladas, uma onda neoconservadora contra lésbicas e gays tem se levantado sorrateira e silenciosamente na mesma proporção do crescimento das paradas do orhulho gay".
Segue a carta aberta:
Rozângela Justino, eu não a conheço pessoalmente e não faço a menor questão de conhecê-la. Mas, como a senhora fez ataques públicos ao coletivo do qual faço parte, logo, a mim, por meio da revista Veja, eu sou obrigado a responder aos mesmos também de forma pública. Vou começar pela comparação que a senhora fez entre militância gay e Nazismo. Ou a senhora é cínica ou é absolutamente ignorante acerca do mal que o Nazismo causou aos homossexuais. Prefiro apostar que a senhora seja cínica, uma vez que sua referência ao Nazismo e o esforço em associá-lo ao movimento homossexual são tentativas canhestras de conquistar a opinião pública, já que a senhora sabe que, no imaginário popular, o Nazismo se confunde com o mal. Não, minha cara, a militância gay não é Nazismo.Fonte: Sexologia Notícias, Ano 2(42), 23/09/2009 (informativo eletrônico do InPaSex - Instituto Paulista de Sexualidade, http://www.inpasex.com.br/).
Se há algum nazista em questão, este é a senhora. Seus comentários referentes à homossexualidade materializam um moralismo e um puritanismo odioso em relação à sexualidade e a modos de vida gay. Logo, seus comentários são bem parecidos com o discurso dos detentores da ordem moral e social e dos apóstolos da religião, da família tradicional e da opressão às mulheres e aos homossexuais. Ou seja, seus comentários são bem parecidos com o discurso das “direitas” religiosas e com o discurso das demais “direitas” (entenda por “direita” os representantes do pensamento e/ou do movimento político que se afina com “restaurações” conservadoras, nacionalismos e fascismos). E qual o discurso das “direitas” religiosas? Ora, aquele que expressa um horror em relação aos homossexuais e certo nojo pela “promiscuidade sexual”, independente de qual seja a orientação sexual do “promíscuo” - um discurso que esteve presente no Nazismo (sim, a gente não pode esquecer jamais que o Nazismo e os fascismos se expandiram e fascinaram multidões também porque denunciaram as cidades grandes como o lugar dos excessos sexuais dos gays e lésbicas e, logo, como espaço de corrupção de corpos e almas; a gente não pode esquecer jamais que o Nazismo era uma empresa de “purificação” não só racial, mas, também sexual). Portanto, expressão do Nazismo ou retorno ao mesmo são suas idéias. Não queira convencer os ingênuos do contrário!
É possível que os oprimidos se identifiquem com a ideologia de seus opressores mesmo sem terem consciência disso. É por isso que podem existir negros racistas e homossexuais moralistas. E é por isso também, minha sé possível, que muitos homossexuais que não resistem às pressões e violências diversas impostas pela ordem em que vivemos tenham procurado seu “consultório” em busca de “cura” para a homossexualidade. A este comportamento nós chamamos de homofobia internalizada. Se a senhora fosse uma psicóloga competente e ética, saberia que os objetivos de uma terapia psicológica não podem ser definidos em termos de mudanças de comportamento do paciente. A cura no sentido de restabelecimento do estado anterior a uma doença é um privilégio da medicina e só existe para patologias provocadas por vírus, bactérias ou fungos ou por disfunções orgânicas e hormonais ou, ainda, para certos tipos de câncer. Homossexualidade não é doença, logo, não precisa de cura.
Sabe, Rozângela, faltam-lhe argumentos. Vocês, fanáticos fundamentalistas ou cínicos exploradores da fé e ignorância alheias, nunca têm argumentos consistentes além do dogmatismo. Seu bacharelado em Psicologia obtido no Centro Universitário Celso Lisboa de nada lhe serviu ou serve já que você recorre a “verdades” que contrariam os princípios das ciências, inclusive daquela que é a base de seu curso, a Psicologia. Aliás, a qual escola ou corrente teórica da Psicologia a senhora está associada? A senhora não diz, por quê? Ora, porque o que a senhora faz não é Psicologia, mas, doutrinação religiosa.
Chega a ser risível sua referência a Michel Foucault porque está claro que a senhora nem sua fonte – Claudemiro Soares - compreenderam o pensamento do filósofo francês, que morreria de infarto, se vivo estivesse, ao ver seu pensamento articulado por uma fascista psicótica (sim, qualquer psiquiatra concordará comigo de que sua crença de que recebeu um chamado de Deus por meio do disco de Chico Buarque é sintoma de um funcionamento mental psicótico, em que a senhora toma, como concretos ou reais, elementos apresentados por sua percepção; o chamado divino a que a senhora se refere não é efetivamente real, concreto, mas, a senhora o toma como tal assim como o fazem os psicóticos com seus delírios e alucinações). Sua referência a Focault macula um pensamento muito mais complexo e distante de suas posturas neoconservadoras e quer, por meio de uma aparente ilustração acadêmica, intimidar feministas e homossexuais orgulhosos de sua orientação a se calarem para não questionar o mundo comum no qual devemos viver.
O que eu posso lhe dizer - a partir das contribuições de Freud, Melanie Klein, Lacan, Foucault, Julia Kristeva, Didier Eribon, dos antropólogos e até dos psiquiatras, contribuições que você não deveria desprezar ou ignorar, já que se diz “psicóloga” - o que eu posso lhe dizer é que os instintos sexuais são naturais, mas, a sexualidade (incluindo, aí, as identidades sexuais) é cultural. Em se tratando de nós, humanos civilizados, pouca coisa em nossa subjetividade (caráter; “alma”; aquilo que nos faz sujeitos) é natural (vem da natureza), pois, ainda na barriga de nossas mães, recebemos o que ele chama de “banho de linguagem”. Desde recém-nascidos, começamos a ser forjados pela cultura. Uma identidade sexual é estruturada de maneira complexa e envolve muitos elementos: desde as experiências de prazer e desprazer na mais terra infância em relação aos pais ou a quem os represente até representações culturais (a maneira como as práticas sexuais aparecem e são qualificadas em tratados científicos; livros religiosos e didáticos; fotos: filmes; propagandas: novelas e etc.), passando por fatores biológicos. A identidade sexual não se confunde necessariamente com a prática sexual. Esta pode ser um componente da identidade sexual, que diz respeito mais a pertencimento; a um “lugar” no mundo. Deu pra entender?
Veja bem, Rozângela, se a senhora continuar defendendo que o sexo só serve à procriação e, por isso, a homossexualidade é antinatural, eu te sugiro que abra mão o cenário onde você costuma fazer sexo (seu quarto e cama confortáveis) se é que a senhora faz sexo, e vá transar no mato como o fazem os animais; aí, sim, a senhora estará de acordo com o que é "natural". Sugiro que, por extensão, a senhora abra mão de todas as conquistas da cultura: habitação, educação, hábitos alimentares, meios de comunicação, tecnologias, regras de higiene, modos de festejar, artes e beijo na boca, sim, pois, a natureza fez a boca para comer e não para beijar. Abra mão da instituição "família" por que ela também é um fruto da cultura e não da natureza (nunca vi uma cadela de véu e grinalda nem ela ser fiel a um só cão até que a morte os separe; e, se não vi, é porque os cães e cadelas agem conforme a natureza, enquanto mulheres e homens agem conforme a cultura).
E saiba que o entendimento do que é “família” muda no tempo e no espaço. Ou a senhora nunca ouviu falar de que, no Oriente Médio, um homem pode ter dezenas de esposas ao mesmo tempo e contar com a proteção do estado e com a bênção divina? Parece que não... Então, faça isso e aí, sim, a senhora será coerente com o que prega. Se não o fizer, é só reconhecer que é uma fundamentalista fanática, psicótica e incapaz de questionar aquilo que te ensinaram como "verdade" e, por isso mesmo, causadora de infelicidade para si e para os homossexuais que acredita curar. Salvador, Ba 12/08/09.
Sem mais, Jean Wyllys"
Projeto Fala Escritor
ResponderExcluirA terceira edição do Projeto Fala Escritor promove no dia 10 de outubro (sábado), às 18h, na Livraria Saraiva Mega Store do Salvador Shopping (Espaço Castro Alves), uma programação recheada de atividades culturais, que envolve palestra, lançamento de livro, recitais poéticos e apresentações musicais. Tudo gratuito e aberto ao público.
A profissão do escritor será o tema da palestra ministrada pelo escritor e editor Carlos Alberto Barreto (autor do livro Fogo Fátuo), que vai falar sobre os direitos ou falta de direitos do profissional do livro.
Também acontece o lançamento da coletânea Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus - 2008, organizada pelo escritor e jornalista Valdeck Almeida de Jesus; lançamento do livro Diário de Rafinhas. As duas faces de um amor, do ator, modelo e escritor Leo Dragone; e receitais de poesias com Nádia Cerqueira, Buzzy de Carvalho, Nara Góes, Alexandre Amaral, Renata Rimet, Carlos Alberto Barreto, Leandro de Assis, Grigório Rocha, Monique Jagersbacher, Malu Freitas, José da Boa Morte, Vera Passos, outros poetas, além da participação musical de Carlos Ventura e Rick Vieira.
Projeto Fala Escritor - Criado pelo poeta Leandro de Assis, com a colaboração dos escritores Carlos Souza, Fau Ferreira, Monique Jagersbacher e Valdeck Almeida. O objetivo é unir os novos escritores baianos, incentivar a escrita, a publicação e o lançamento de livros, além de disseminar informações referentes ao mercado editorial.
Período: 10/10
Horário: Sab, 18:00hs
Preço: entrada gratuita
Contato: 8831-2888 – Leandro de Assis
E-mail: leandroicp@hotmail.com
Onde: Livraria Saraiva – Salvador Shopping
Avenida Tancredo Neves, S/N.
41820-021 - Salvador - BA
(71) 3341-7020
Fontes:
http://www.difundir.com.br/site/c_mostra_release.php?emp=1024&num_release=8609&ori=V
http://www.jornow.com.br/jornow/noticia.php?idempresa=1024&num_release=8609
http://www.bocadopovo.com.br/noticia.php?id=3301