domingo, 25 de abril de 2010

H1N1: genocídio, terror e hipocrisia do Estado

   No correr do ano de 2009, a epidemia de H1N1 transformou-se em pandemia. Muitas escolas não retornaram das férias de inverno, seja por que os governos estaduais e municipais assim determinaram ou porque os pais dos alunos de escolas privadas assim preferiram.
   Em diversas instituições, nos diversos níveis de ensino, os eventos e as aglomerações passaram a representar um enorme risco à saúde pública, levando os responsáveis a evitá-los. Por isso, foram canceladas as aulas e muitos eventos foram suspensos por tempo indeterminado.
   Fui vítima disso, por ocasião de um evento internacional em que estava inscrito, a ocorrer no estado de Minas Gerais. A instituição decidiu adiá-lo e, apesar de já ter comprado passagens e reservado hotel, não fiquei tão incomodado. Pude compreender a gravidade da situação.
   Entretanto, uma determinada rede municipal de ensino, no interior de São Paulo, não quis seguir as recomendações do Ministério da Saúde, nem do Conselho Estadual de Educação (como assim fizeram outras redes de ensino). O fato é que as escolas particulares estavam fechadas após as férias de inverno, do mesmo modo como as milhares de escolas da rede estadual de SP. Mas nesta rede (e em outras cidades também), as aulas retornaram por alguns dias. Todos estávamos preocupados com a pandemia, que aqueles dias representava morte iminente dos mais descuidados. Diante disso, a Secretaria de Educação pronunciava-se na mídia local alegando ser um exagero fechar as escolas, que isso somente agravaria a situação quando do retorno às aulas. Era melhor, segundo tais "autoridades", criar as necessárias barreiras imunológicas na população. Ademais, não se noticiavam casos confirmados da nova gripe na cidade. Parecia um absurdo pensar que a "gripe suína" chegaria a esta localidade.
   Nas ruas, entretanto, percebi várias pessoas circulando com suas máscaras, dispostas a se proteger como pudessem. Era realmente estranho, mas completamente plausível que o terror da gripe mortal afligisse a população. Normalmente, uma pessoa circulando com máscara indicaria que ela própria estivesse acometida de grave enfermidade. À época, contudo, o pensamento só podia ser o inverso. Os indivíduos queriam proteger-se do contato com o vírus da nova e temida gripe.
   Nas escolas municipais, as medidas de segurança foram pífias. Não havia álcool, não havia sabonete, não havia máscaras. Havia tão somente o discurso dos representantes do poder local tentando acalmar a população. Era fácil pronunciar tais discursos uma vez que estavam protegidos pelo ar menos letal dos seus gabinetes. E certamente não frequentavam as escolas cheias de crianças com febre e tosse (sintomas que deveriam impedi-las de ir às aulas). Poucos médicos, pelo que pude constatar, recomendaram que permanecessem em casa as crianças com suspeita da gripe H1N1.
   Depois de alguns dias, confirmaram-se alguns casos dessa gripe na cidade e o alerta foi dado. Mas o poder público não estava bem certo do que fazer. Optaram pela medida demagógica de suspender as aulas, prometendo a reposição de todos os dias parados. Ora, isso não era necessário, diante das recomendações do Conselho Estadual de Saúde. Nestes casos, quando há ameaça à saúde pública, não há necessidade de cumprir os tais 200 dias letivos indicados na legislação.
   Ao retornar as aulas, com uma rapidez impressionante, parecia que o poder público havia estendido o gozo das férias aos profissionais da educação. Não se levou em consideração que a maioria das pessoas permaneceu em casa, temendo o contato com o vírus da doença. Então, os trabalhadores receberam uma certa quantidade de álcool gel (que devia ser bem racionada) e as escolas compraram alguma quantidade de sabão (sabonete só nas mais excêntricas). Dias depois do retorno ao trabalho, planejavam-se as atividades de reposição aos sábados. Não é preciso dizer que as aulas se estenderam até o Natal e que as aulas aos sábados foram um tormento desnecessário. Ninguém usou máscara, as crianças doentes continuaram a frequentar as escolas e o uso do álcool e sabão tinha tantas falhas que pouco adiantaram para alguma coisa.
   Agora, o poder público oferece a vacina a diversos grupos considerados de risco. No entanto, os professores não serão imunizados (a não ser que tenham menos de 40 anos e mais de 60) e nem as crianças em idade escolar. Parece que as escolas estão com as portas abertas a uma nova epidemia. Será que existe aglomeração mais vulnerável à transmissão de doenças virais do que as das escolas de todos o país? Será que só interessa promover a imunização à população "economicamente ativa"?
   Como resposta aos discursos que procuravam por panos quentes durante a pandemia, a população brasileira está se recusando a tomar a vacina. Afinal, continua não sendo tão importante preocupar-se com os riscos do vírus H1N1. A população só está seguindo o conselho dos governantes: não há motivos para pânico, é só lavar bem as mãos que tudo se resolve. "Façam como nós", dizem eles, "em relação à gripe suína, nós lavamos nossas mãos."
por Resistir e Libertar.

3 comentários:

  1. Olá pessoal, queria dizer que gostei da postagem, inclusive estou procurando informações pra fazer um texto pro meu zine, eu queria saber de vcs uma coisa, se eu boicotar a vacina como protesto não vou ficar sujeito a essa "gripe mortal"? Seria isso sensato? Obrigado.

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  2. resistirelibertar@riseup.net27 de abril de 2010 às 13:19

    Acreditar que a vacina contra o vírus da gripe H1N1 será eficaz é uma aposta semelhante a que se faz quando tomamos a vacina da gripe comum. Ou melhor, é uma vacina, não uma cura ou tratamento. Estatisticamente, é mais benéfico tormar uma vacina do que correr o risco de pegar a doença, mas cada um deve ser livre para escolher. Lembrando que se a pessoa tiver alguma doença grave, especialmente as que debilitam o sistema imunológico, deve ficar atento pois a vacina pode causar uma reação capaz de levar a óbito. O IDEAL É SEMPRE CONSULTAR UM MÉDICO DE CONFIANÇA E ESCLARECER TODAS AS DÚVIDAS.

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  3. Saquei, tá certo, valeu pela resposta, continem mantendo o blog foda como ta.
    Abraços!

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