A situação dos trabalhadores na educação não é diferente daquela verificada nas demais “categorias”. A opressão sempre existiu em todas as profissões, em todas as áreas da produção. O próprio ato de trabalhar é sinônimo de exploração no modo de produzir a que estamos sujeitos. Entretanto, existem algumas peculiaridades do que podemos chamar de carreira docente. São características que evoluem com o passar do tempo, sempre acompanhando o desenrolar dos conflitos e das contradições oriundas do modo de produção capitalista.
Antes da revolução industrial, a atividade educacional era essencialmente privada, direcionada aos poucos que podiam arcar com seus custos. Assim, permanecia dentro dos palácios, nas cortes e casas da nobreza e da burguesia emergente. Poucas instituições universitárias desde a Alta Idade Média disputavam com os grandes centros culturais e comerciais a preferência desses poucos privilegiados que buscavam os conhecimentos científicos cada vez mais valorizados.
A elite bem educada da Idade Moderna soube produzir vasto material teórico para enfrentar a decadente aristocracia européia. Após um período de sucessivas revoluções, o mundo capitalista viu-se consolidado sobre a luta de classes (burguesia e proletariado) e sobre a evolução técnico-científica da indústria. Um mundo de mudanças constantes foi instaurado, submetendo todas as atividades econômicas às transformações e descobertas das mais diversas áreas científicas. A vida humana passou a acompanhar o ritmo intenso de mudanças desse processo produtivo, o que interferiu drasticamente no próprio comportamento das pessoas. Era preciso correr atrás do movimento incansável das máquinas, caso o trabalhador não quisesse tornar-se também obsoleto. A humanidade foi, assim, transformada em engrenagem do sistema econômico, desvinculando-a do trabalho como essência da vida coletiva.
Neste momento, a educação escolar surge como instrumento dos setores produtivos para maximizar os resultados da acumulação capitalista. As escolas convergem esforços no sentido de tornar a população apta às demandas do trabalho alienado. De um lado, a escolarização pretende formar as classes dominantes e de outro, dar condições de adaptação aos trabalhadores, inserindo ambos no sistema de acumulação que vai exaurindo dos sujeitos sua condição humana. Aos poucos, toda a existência vai se moldando ao sistema predatório de exploração, produzindo não só a opressão no trabalho, mas também a consolidação de uma cultura, de uma educação, de uma filosofia e de uma ciência que dão sustentação à nova sociabilidade.
Os filhos dos trabalhadores, então, marcham aos milhares para as escolas-fábricas, buscando a “formação” do novo ser humano, ao passo que as escolas para a elite asseguram a reprodução da futilidade e do desprezo burguês, preparando as crianças para competirem no mercado de oportunidades. No início, nem toda a classe proletária acedia quanto à importância da escolarização, dado a necessidade de trabalho de todos, inclusive crianças. Mas durante o curso da história, as condições sociais foram sofrendo mudanças, de acordo com os interesses das classes dominantes. Ainda que tivessem que lidar com os conflitos gerados no interior do processo produtivo, aos burgueses coube sofisticar cada vez mais os instrumentos de exploração. Um grande exemplo disso são os discursos em torno da importância da educação escolar para a inserção no mercado de trabalho. Eis a grande contradição capitalista.
Subjugados nos seus postos de trabalho, cada vez mais raros e contando com mais elaborados instrumentos de opressão, os trabalhadores foram sendo aprisionados à lógica da acumulação. As crianças foram deixando o trabalho diante de uma gama de teorias psicológicas fundamentadas na moral burguesa. Foram enchendo as escolas em busca do sonho de uma vida melhor, o que só era alcançado pelos mais "aptos". Assim, tem início o período do idealismo liberal, contaminando as classes mais oprimidas que buscavam resgatar sua humanidade perdida.
Na escola de massas, advento do mundo contemporâneo, os sujeitos são preparados para a acumulação integral. Isso representa a intensificação da exploração no trabalho, pois os operários agora devem entregar-se de corpo e alma à produção, sob ameaça do desemprego. Pais e mães trabalham da mesma forma para assegurar o sustento do lar, deixando a educação dos filhos para a escola. Ambos apostam na institucionalização da educação, tendo em vista seu total esgotamento pelo trabalho. Já não há relação familiar e há muito tempo as professoras tornaram-se verdadeiras mães das crianças proletárias. Por outro lado, os conhecimentos científicos são paulatinamente esquecidos e vão deixando de fazer parte das atividades escolares.
É necessário, então, deixar as crianças brincarem, alimentá-las e cuidar de sua higiene, posto que sua inserção na humanidade agora é tarefa do Estado. Não há mais tanta solidariedade entre aqueles que vivem juntos no lar, cabendo aos professores formá-las integralmente para a dura realidade de abandono. Além disso, foram esquecidos os sonhos liberais: a escola nada pode contra o acirramento da competição no mundo do trabalho. As ilusões foram postas de lado até mesmo pelos professores, vítimas da alienação integral.
Tanto as famílias proletárias como os trabalhadores da educação escolar estão profundamente ocupados em reproduzir suas próprias condições de existência. Mais que isso, estão absorvidos pela cultura do individualismo, competitividade e consumismo. Seguindo esta lógica, o Estado cria mecanismos para salvar a escola da total falta de sentido. Os programas de subsídio, como o Bolsa Família, impediram nos últimos anos que a escola fosse abandonada à própria sorte.
Por sua vez, a figura da professora-mãe é cada vez mais rara no sistema público de educação, tendo sido substituída pelo profissional oprimido e exaurido por horas e horas de trabalho. Cada vez mais homens ingressam na carreira do magistério, nas primeiras etapas de escolarização. E, sendo a remuneração cada vez mais pífia, já não há escolha para muitos trabalhadores. Além do mais, o feminismo produziu repercussões ironicamente opressivas às mulheres e vantajosas ao sistema de acumulação integral: permitiu o ingresso em massa das mulheres no mercado de trabalho, à medida em que os salários dos homens foi sendo achatado. O resultado é que a família toda precisa trabalhar o dia todo para sustentar-se e ainda poder consumir.
Em meio a isso, os discursos de formação para a cidadania, para a vida e para o trabalho ganham vulto na rede pública de ensino. Cabe, então, aos professores seguir as orientações do sistema, lutando ao mesmo tempo para manter-se à salvo da exclusão social. Promover estratégias de resistência dentro da sala de aula é cada vez mais difícil diante das estratégias do sistema burguês de opressão. E a opressão contra o trabalhador da escola transfigura-se em alienação do seu papel transgressor e subversivo.
Para subsistir, muitos professores e professoras desistem de lutar e compensam suas frustrações apenas no consumo alienado, contribuindo para a exacerbação de uma vida sem sentido, vazia em que o educando passa a ser seu inimigo e o processo produtivo consegue impregnar de preconceito e desprezo todas as suas ações didático-pedagógicas.
É hora dos professores assumirem a dimensão do seu trabalho na reprodução do sistema de exploração capitalista e perceberem o significado de suas ações para o processo de emancipação da classe trabalhadora. Somente assim, identificando-se com os demais trabalhadores, o trabalho educativo tem a chance de criar meios de subverter a ordem. É preciso resistir à opressão como forma de colaborar à libertação e emancipação da classe trabalhadora.
Adorei o post, mas tenho q confessar, gamei mesmo foi na figura do cabeçalho do seu blog. Procurei pela internet toda essa imagem e não encontrei, tem como vc compartilhar comigo???
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