sábado, 16 de abril de 2011

Juscelino Kubitschek e a repressão à desordem


O presidente Juscelino Kubitschek, que construiu Brasília e é lembrado como o grande responsável pelo período de desenvolvimento industrial do Brasil, com o lema 50 anos em 5, deixa bem claro de que lado estava ao exortar os valores do mercado na construção de uma democracia para as elites. Na sua mensagem de ano novo, publicada na primeira edição da Folha de São Paulo em janeiro de 1960, o presidente denuncia o movimento operário como o grande inimigo do seu plano desenvolvimentista, considerando as greves como o terror dos bem intencionados capitalistas.
Qualquer semelhança com a atualidade não é mera coincidência. A diferença é que hoje a "desordem" está sob controle, como nunca antes. É esta a democracia que temos no Brasil. Uma democracia de vozes silenciadas, de controle total dos corpos e mentes, de uma liberdade cerceada para todo o horizonte além da necessidade imediata de consumo alienado.
Esta é a mensagem que ecoa pelo tempo: até quando deixaremos que nos roubem a humanidade, transformando a vida em mera atividade produtiva entorpecida?

Mensagem presidencial de ano novo - 1960

Agirei com a mesma determinação que me permitiu não recuar quando o conluio de “golpistas” tentou impedir a recuperação democrática do Brasil. Assim procedendo, estarei a defender o livre exercício da democracia no peito presidencial que se travará em breve, e a cumprir o solene juramento que prestei ao assumir a presidência da República. As turbulências e greves afugentam os capitais que nos procuram a fim de ajudar-nos a desenvolver este país e desestimulam os nossos homens de empresa, ante o risco de, em toda parte, e a qualquer momento, pararem os trens, não decolarem os aviões, ficarem os navios, cheios de mercadorias, abandonados por aqueles mesmos aos quais compete conduzi-los.

Sei que, ao defender a manutenção da ordem, enquanto estiver em minhas mãos o comando desta nação, que me coube por vontade popular, posso contar com o apoio dos setores responsáveis do país, da maioria do Congresso, das forças de terra, mar e ar, das classes trabalhadoras e produtoras, dos meus companheiros de partido, do rádio, da televisão, da imprensa livre e responsável. Não tolerarei manifestações ilegais ou incitações a desordens. Desejo conduzir com paz os meus últimos meses de governo, mas pretendo continuar governando com toda a plenitude. Sinto-me confortado e encorajado pelas provas, numerosas e inequívocas, que venho recebendo de homens públicos, governadores de Estado, autoridades religiosas e civis, chefes militares, entre os quais poderia apontar nomes ilustres filiados a outros partidos que não aquele a que me honro de pertencer.

KUBITSCHEK, Juscelino. Mensagem presidencial de ano novo. Folha de São Paulo, São Paulo, 01 jan. 1960, Primeiro Caderno, p. 10.

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